Após 1ª morte, Mandetta diz que SUS terá até três meses de ‘muito estresse’
18/03/2020
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, alertou ontem que o sistema de saúde brasileiro deverá enfrentar um período de 60 a 90 dias de “muito estresse” com o aumento de casos de infecção por coronavírus. Ele mostrou preocupação com medidas de restrição do trânsito de pessoas em território nacional, porque podem comprometer o abastecimento dos dos grandes eixos. Mandetta acredita que o país entrará no “platô” de estabilização da crise em julho, para em agosto ou setembro voltar à normalidade. Mas isso depende de garantir a imunidade de “mais de 50% das pessoas”, esclareceu.
Ontem o ministério registrou a primeira morte relacionada à covid-19 - um paciente de 62 anos que estava internado em São Paulo. O número de casos confirmados até ontem havia passado de 234 para 291 e o número de casos suspeitos subiu de 2.064 para 8.819.
Segundo Mandetta, há risco de sobrecarga na rede pública porque 15% dos pacientes com coronavírus vão precisar de internação e, dentro desse grupo, 4% a 5% vão requerer cuidados centro de tratamento intensivo (CTIs). Nesses casos, o tempo de permanência é de 15 dias.
Por enquanto, medidas mais severas para conter o avanço do vírus, como a restrição no trânsito de pessoas, serão tomadas sempre pelo comitê de crise do governo federal. Mandetta mostrou preocupação porque o mau planejamento pode comprometer a logística e interromper o abastecimento.
“Não adianta parar tudo e depois não ter alimento para os Estados. São Paulo é um grande produtor, é um grande canal [de escoamento de produtos]”, afirmou. “Temos conversado com a ministra Tereza [Cristina, da Agricultura].” Segundo ele, o objetivo é criar condições para que os supermercados continuem funcionando.
Em outra frente, o gabinete de crise editará uma medida provisória para flexibilizar contratações na área de saúde. Os ministérios da Saúde, da Advocacia-Geral da União e a Secretaria-Geral da Presidência atuam de forma coordenada na elaboração do texto.
A preocupação é desburocratizar as contratações de bens e serviços relacionados ao sistema de saúde, como kits para a testagem do vírus, máscaras de proteção e produtos de higiene. Estão sendo articuladas medidas para instituir “termos de referência” e estimativa de preços simplificados, dispensar requisitos para habilitação dos fornecedores e abreviar, se possível pela metade, os prazos para realização dos pregões.
Até agora, somente as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro contam com casos de transmissão sustentada (ou comunitária) da doença, ou seja, quando não é possível mais identificar a origem e trajetória de infecção pelo vírus.
A primeira morte confirmada no Brasil em razão da pandemia é de um paciente diabético e hipertenso de 62 anos sem histórico de viagem recente, que estava internado no Hospital Sancta Maggiore, da rede privada Prevent Senior. Trata-se de um caso de “transmissão comunitária”, confirmou o infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência para o coronavírus no Estado de São Paulo. O paciente teve sintomas em 10 de março, foi internado no dia 14 e morreu na segunda-feira.
No mesmo hospital, houve outros cinco óbitos de pacientes com quadros clínicos similares àqueles infectados pelo vírus. No entanto, até a noite de ontem, não havia confirmação se a causa da morte foi a covid-19, uma vez que os resultados dos exames ainda não estavam prontos. Os diagnósticos dos testes estão levando de três a sete dias devido à forte demanda.
“Vamos inclusive sugerir ao Ministério da Saúde que mude a quarentena, de 14 para dez dias”, disse Uip, referindo ao prazo de isolamento observado para que o vírus se manifeste. A proposta se deve à evolução rápida da internação ao óbito observada no caso.
Os bancos de sangue do Estado têm estoque para apenas uma semana. Uip apelou à população que doe sangue, ressaltando que o procedimento é feito com toda segurança clínica. Quanto à disponibilidade de testes, ponderou que realizar exames para todo mundo não é uma possibilidade real.
“Temos que reforçar medidas de prevenção em âmbito comunitário. Isso é importante”, reforçou o secretário do Estado da Saúde, José Henrique Germann.
Segundo a secretaria, o Instinto Butantan já entregou 10 milhões de doses da vacina contra influenza. Outras 23 milhões de doses estão prontas para serem remetidas a todo o país. A encomenda do Ministério da Saúde foi recorde neste ano: 75 milhões de doses. O Butantan já está fazendo entregas desde o dia 11, e as doses já chegam à maior parte dos Estados. Esta é a maior campanha nacional de vacinação de influenza do mundo, informou o instituto.
Segundo Helena Sato, diretora de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo, embora a vacina antigripe não tenha função cruzada de proteção contra o coronavírus, é fundamental a população de maior risco se imunizar.
“Importante deixar claro que essa vacina é contra o influenza, não tem proteção cruzada contra o coronavírus. Mas queremos reforçar a importância da campanha”, disse. A vacinação contra gripe foi antecipada neste ano devido à pandemia e começará em São Paulo por idosos, profissionais de saúde, portadores de doenças crônicas, crianças e grávidas.
Técnicos do Ministério da Saúde informaram ontem que a pasta lançará um chamamento público para contratar empresas de tecnologia especializadas capazes de desenvolver testes de detecção do novo coronavírus. A expectativa é que o documento seja publicado até amanhã no “Diário Oficial da União”. O ministério já havia anunciado a possibilidade de comprar testes instantâneos para coronavírus, para agilizar o diagnóstico de infecção da doença.
Fonte: Valor Econômico