Os desafios enfrentados pela saúde pública e privada no Brasil
28/12/2017
Os sistemas de saúde vão enfrentar transformações importantes em todo o mundo até o fim desta década, mudando drasticamente o seu perfil.
Os gastos públicos crescem anualmente – em alguns países representam 15% do PIB –, ao mesmo tempo em que a dívida pública alcança níveis críticos.
Esse cenário provocará um aumento por soluções competitivas e de menor custo tanto por países emergentes quanto pelas nações desenvolvidas.
O Brasil não foge a essa realidade.
Os gastos com saúde cresceram mais de 13% entre 2010 e 2015 e representam 10% do PIB.
Parte desse aumento se deve à evolução do custo médico.
Segundo dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), entre 2012 e 2015, ele passou de R$ 1.651 para R$ 2.410.
Puxado principalmente pela inflação e pelo aumento da frequência.
A análise desses dados indica que procedimentos como internação, consultas e realização de exames tiveram peso semelhante na evolução do indicador.
Como o País tem uma infraestrutura que está longe de se assemelhar à de países desenvolvidos.
Atender a essa crescente demanda da população é uma grande oportunidade para o setor empresarial.
O Brasil é um dos maiores sistemas privados de saúde do mundo e dos R$ 500 bilhões gastos com saúde em 2013, R$ 260 bilhões vieram de despesas particulares.
Tanto não reembolsáveis quanto de planos de saúde.
Para competir nesse mercado, os players do setor devem se concentrar em três aspectos:
Aumentar o acesso da população aos tratamentos, entender a preocupação com saúde nas classes média e alta e atender à demanda por mais qualidade nos serviços.
Essas tendências virão acompanhadas por uma forte pressão de custos.
Uma das primeiras medidas a serem tomadas em busca de aumento de eficiência é a implementação de um atendimento primário para selecionar a demanda dos pacientes.
Evitando procedimentos desnecessários. Entre 2008 e 2011, a proporção de consultas emergenciais cresceu de 65% para 78%.
Enquanto isso, a quantidade de internações a partir desse atendimento decresceu 3%.
É um forte indicativo de que algumas práticas de saúde no Brasil precisam ser revistas.
Também é preciso implementar modelos que configurem uma relação entre resultado e pagamento.
Nos Estados Unidos e Europa, por exemplo, sistemas como o Diagnosis Related Groups (DRGs) criam um patamar de custos comparáveis para cada evento.
Garantindo o controle de custo dentro do limite estabelecido.
No Brasil, o uso de protocolos conhecidos já é o primeiro passo nesse sentido.
Ao estabelecer preços determinados para alguns procedimentos, como parto cesáreo ou tratamento de cálculo renal.
Os prestadores reduzem a variação no custo e podem melhorar sua gestão e eficiência.
Num mundo cada vez mais digital, a tecnologia se firmará também como uma aliada, viabilizando a redução das distâncias e dos custos de atendimento.
Pacientes que antes tinham de se deslocar a grandes centros para serem atendidos agora são diagnosticados remotamente.
Já os especialistas conseguem aumentar os seus níveis de produtividade.
Outro aspecto primordial é oferecer um serviço de qualidade.
De acordo com uma pesquisa da Bain & Company, realizada em parceria com a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp).
Em 18 desses estabelecimentos o bom atendimento é o principal quesito valorizado pelos clientes. Investir nele vale a pena.
Ao comparar ‘promotores’ e ‘detratores’, o estudo identifica que o primeiro grupo está 200% mais disposto a voltar ao hospital de sua preferência.
Mesmo que precise gastar o dobro de tempo para isso. Ao lado da busca da excelência no atendimento, os prestadores devem ter em igual nível de prioridade a eficiência operacional.
Medidas como fechamento de unidades, formação de centros de excelência especializados, monitoramento de processos e rotina dos pacientes nas instituições devem ser aplicadas como forma de reduzir a necessidade de investimentos.
Os planos de saúde já começaram a fazer essa lição: para lidar com as pressões de custo dos benefícios.
Buscam formas de reduzir gastos por meio de programas e iniciativas, como compras conjuntas de insumos de alto custo.
Maior gestão de doentes crônicos, foco em prevenção e programas de segunda opinião.
Para ajudar a controlar custos, uma tendência de atendimento que deve aumentar nos próximos anos é o home care.
Responsável por movimentar R$ 3 bilhões em 2014, com 310 mil pacientes em internação domiciliar e outros 630 mil assistidos em casa com consultas médicas.
Ainda assim, a solução mais completa, que garanta um atendimento eficiente aos pacientes sem prejudicar a rentabilidade dos agentes privados, é a medicina preventiva.
Ao proporcionar serviços integrados que vão além do episódio agudo.
Os prestadores e planos podem aumentar o portfólio de serviços oferecidos em unidades com infraestrutura mais simples, a fim de rentabilizar o investimento.
No longo prazo, apenas os modelos de negócio transformadores serão capazes de capitalizar as novas ondas de crescimento da indústria de saúde e, ao mesmo tempo, garantir a sustentabilidade em custos.
O futuro do setor certamente passará por uma maior colaboração entre governo, prestadores de serviços e pacientes.
Fonte: Folha de São Paulo