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Com medo da Covid-19, pacientes crônicos cancelam tratamentos

27/04/2020
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Apesar de a orientação ser clara – pacientes diabéticos, hipertensos, acometidos por doenças crônicas, cânceres e outras comorbidades não podem interromper tratamentos -, a Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) informa que está cada vez mais comum a interrupção das intervenções médicas. De acordo com estimativa da organização que representa a rede privada de saúde do país, de maneira geral, os atendimentos caíram pela metade desde o início da pandemia.

 

“A nossa preocupação é com a saúde dos pacientes. Um doente crônico que está com o quadro em dia, seguindo seu acompanhamento, é mais simples de ser tratado. O que está em estado avançado pode ter prejuízos muito sérios caso deixe suas consultas”, explica Bruno Sobral, secretário executivo da CNSaúde. Ele se refere àqueles que, por medo de serem contaminados pelo vírus, largam o acompanhamento e não dão sequência a tratamentos que estabilizam os quadros clínicos e também aos que demoram para procurar socorro em emergências.

 

Não há um levantamento exato sobre quantos pacientes estão adiando ou cancelando tratamentos, mas médicos de diversas especialidades ouvidos pelo Metrópoles observam uma debandada dos consultórios de aproximadamente 50%. “A taxa de ocupação dos hospitais e clínicas caiu pela metade. É um indício muito forte de que as pessoas interromperam tratamentos. Os pacientes crônicos não podem esperar a pandemia passar”, alerta Sobral.

 

O coordenador de Cardiologia do Hospital Santa Lúcia, Frederico Abreu, observa uma queda ainda maior em sua especialidade clínica. “A imensa maioria dos pacientes está evitando ir ao hospital. Chega a cerca de 80%. Eles estão muito assustados com a situação”. As cardiopatias são um dos principais fatores de risco para os quadros graves da Covid-19 , mas os cardiologistas alertam que a chance de morrer em consequência de um problema cardíaco é maior do que a de pegar o coronavírus em um atendimento necessário e desenvolver o quadro grave da doença.

 

Abreu sugere que os médicos alinhem o melhor modo de tratar os pacientes nesse momento, mas enfatiza que, nos casos mais graves de pacientes cardíacos – como arritmia, infarto e derrame – os atendimentos não podem ser adiados ou esperar por uma consulta ambulatorial. “Se esse paciente ficar em casa infartado, a chance de ele ter uma complicação, de ficar com sequelas ou vir a óbito é muito maior caso não procure atendimento por medo do coronavírus”.

 

Doentes renais

O Brasil tem 126 mil doentes renais crônicos, segundo censo realizado pela Sociedade Brasileira de Nefrologia. Muitos precisam comparecer às sessões de hemodiálise. “A interrupção do tratamento não é uma opção. Eles não podem deixar de fazer a hemodiálise ou vão comprometer os rins”, alerta a nefrologista e diretora da Clínica de Doenças Renais de Brasília (CDRB), Maria Letícia Cascelli.

 

O hematologista Eduardo Flávio Ribeiro, coordenador de Hematologia do Centro de Oncologia do Hospital Santa Lúcia, enumera os pacientes oncológicos que não podem abandonar as consultas: os que investigam o surgimento de tumores; os que têm o diagnóstico e deram início ao tratamento; e os que finalizaram o tratamento, mas precisam de exames de retorno e avaliação para controle.

 

“Tenho casos de pacientes que se recusaram a dar sequência à investigação de tumores por medo de se submeter a um procedimento cirúrgico neste momento”. Apenas no hospital em que trabalha, foram 30 cancelamentos. O número é preocupante, pois, caso o tumor seja confirmado tardiamente, o tratamento tende a ser mais agressivo.

 

Um procedimento adotado para garantir a saúde do paciente e da equipe é a exigência de testes para o coronavírus antes da realização de qualquer cirurgia. Na rede D’Or, ele se tornou um requisito pré-operatório. “As equipes internas estão sendo testadas com periodicidade e só confirmamos o agendamento do paciente recebendo esses resultados negativos”, explica Guilherme Villa, diretor regional da rede D’Or.

 

Segurança nos hospitais

Hospitais particulares, clínicas e laboratórios seguem um conjunto de medidas de segurança especiais e específicas para o momento. Além do uso de máscaras por toda a equipe, álcool em gel, distanciamento das cadeiras e espaçamento entre consultas, os atendimentos nas emergências e áreas comuns têm sido separados. A medida serve para distanciar ao máximo os pacientes com suspeita de Covid-19 dos demais.

 

“Queremos tranquilizar os pacientes. O sistema de saúde privado está preparado para receber e trabalhar com as pessoas com maior segurança possível”, garante o secretário executivo da CNSaúde. “Houve um esforço muito grande para treinar os profissionais para implantar os fluxos de atendimento”, garante Sobral.

 

Fonte: Metrópoles

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