Jovens saem e velhos ficam em plano de saúde, e isso pode encarecer planos
14/09/2018
Os planos de saúde perderam, entre 2014 e 2018, 5,4% de clientes, segundo dados da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). O número de planos caiu de 49,9 milhões, em junho de 2014, para 47,2 milhões, em junho deste ano. Saíram principalmente os mais jovens (clientes até 39 anos) e ficaram os mais velhos (a partir de 40 anos).
Os mais jovens representavam 63,54% dos clientes e passaram a 60,85%. O grupo dos mais velhos, a partir de 40 anos, cresceu percentualmente, passando de 36,46% para 39,15% do total de clientes.
A má notícia para todos é que isso pode encarecer os planos, porque os jovens, em geral, pagam menos, mas também usam menos, enquanto os velhos normalmente pagam mais, mas também usam mais os planos.
Com uma participação menor de jovens, a conta fica mais difícil de fechar, porque o grupo que fica tem mais pessoas com doenças, e os gastos médios por paciente tendem a subir.
Planos perderam 3 milhões de jovens
A saída de jovens chegou a 3 milhões. Entre eles, a queda foi de 9,4%. Eram 31,74 milhões, em junho de 2014, e passaram a 28,74 milhões, em junho deste ano.
É o oposto do que aconteceu na outra ponta da clientela. Dos clientes com 40 anos para cima, o número total de beneficiários subiu de 18,21 milhões para 18,49 milhões (280 mil pessoas a mais), uma alta de 1,5%, puxada principalmente pelos mais velhos: entre aqueles com idade entre 60 e 74 anos, a alta foi de 9,2%; entre os que têm mais de 75 anos, o crescimento foi de 10,8%.
O desemprego, que atingiu filhos e pais, e o simples fato de os planos terem ficado muito caros para quem, no geral, tem saúde boa, estão entre as razões que explicam a debandada dos mais novos dos planos de saúde.
“Se o serviço fica muito caro, pode acontecer de as pessoas que são, no geral, mais saudáveis, acharem que não compensa mais para elas e decidirem não fazer mais parte daquele grupo”, disse a economista Ana Carolina Maia, professora da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) e especializada em saúde e seguros.
“Só que, se isso acontece, há menos gente saudável para sustentar as pessoas que têm algum problema, e o risco total do grupo sobe.”
20% dos usuários usam 80% dos recursos
Ana Carolina afirma que os planos de saúde, como qualquer tipo de seguro, funcionam como uma vaquinha: todos que entram aceitam dar um pouco de dinheiro em troca de poder usar uma parte do total caso precisem.
Nesse esquema, os mais jovens e os mais saudáveis, que no geral demandam menos desse fundo coletivo, são peça-chave para fechar a conta, que precisa pagar todas as despesas que vêm dos mais velhos ou mais doentes. É um grupo menor, mas que tende a precisar mais de consultas, exames e procedimentos mais caros, como cirurgias e internações.
“Hoje, cerca de 80% dos recursos que um plano de saúde recebe são gastos por apenas 20% dos que pagam, mas os mais jovens e os mais saudáveis aceitam financiar a conta pelo risco de precisarem em uma emergência”, disse a professora.
“É como em um seguro de carro: nós contratamos, na verdade, pelo medo de ter uma perda total, o que tem uma probabilidade muito pequena de acontecer, mas, se acontecer, sairá muito mais caro.”
Se os jovens saem, ou se o outro grupo, mais frágil, cresce muito, essa espécie de balança se desequilibra, e todos perdem: os mais jovens ficam sem a garantia para as emergências, os mais velhos ficam com uma conta mais cara, e a empresa pode acabar perdendo os dois.
Perdeu o trabalho, perdeu o plano
Uma das principais razões para a saída mais acentuada dos mais novos nos planos de saúde passa pela disparada do desemprego.
Além de o desemprego ser maior entre os mais jovens, as demissões cortam os convênios pela raiz, já que a grande maioria dos contratos do país hoje são de planos empresariais, pagos pelas empresas a seus funcionários.
“Não é que o jovem saiu do plano de saúde, ele perdeu”, disse o diretor-executivo da FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), José Cechin. “Ou porque era a empresa que pagava e ele perdeu o emprego, ou porque ele tinha direito ao benefício como dependente dos pais e os pais foram demitidos.”
Os planos empresariais são hoje 67% dos contratos ativos, segundo a ANS, e, entre os que estão na faixa dos 20 aos 39 anos de idade, essa participação sobe para 75,7%. Ou seja, para a vasta maioria deles, perder o trabalho é sinônimo de perder o benefício.
Fonte: UOL